quarta-feira, 6 de maio de 2009

Não qureo apenas que vocês me amem (Ich will nicht nur, daß ihr mich liebt), Hans Günther Pflaum (1992)


Um documentário sobre Rainer Werner Fassbinder produzido por ocasião do 10º aniversário da morte do cineasta, ocorrida em 10 de junho de 1982 em Munique. Hans Günther Pflaum rastreia suas pistas em três diferentes planos: num primeiro plano, vários colaboradores de Fassbinder falam sobre a pessoa, o método específico de trabalho e a importância do diretor. No segundo plano, é o próprio Fassbinder quem tem a palavra, com a ajuda de material de arquivo. No terceiro plano, trechos extraídos da obra de Fassbinder esclarecem e complementam os depoimentos. A documentação, estruturada em dez capítulos, tem como foco central, por um lado, a vida do diretor, desde a sua infância até a sua morte e, por outro, pontos de destaque do seu trabalho artístico, como uso da câmera, atores e música.

Um comentário:

  1. O Cinema das Pós-Guerras à Reunificação

    Beto Leão (*)

    O Cinema Alemão após a I Guerra Mundial (1918) se reconstrói sob a influência do Expressionismo, quando alguns cineastas (Fritz Lang, Murnau, Robert , Pabst) traduzem as angústias e frustrações do país após a derrota no conflito bélico. Manifesta-se, através de complexas experiências formais, o estado de alma dos personagens, mitos e lendas, que passam a povoar os filmes simbólicos e oníricos. A partir do final da década de 1930, o Nazismo descobre o cinema como instrumento de propaganda (Lilian Reifenstahl, Harlan). Nas décadas de 1940 e 1950, o cinema alemão é marcado pela estagnação, com a produção mergulhando numa crise que persistirá até os anos 1960 e 1980. Nos anos 1960 e 1970, brilha o Cinema Novo Alemão com os filmes amargurados de Rainer Werner Fassbinder (“As Amargas Lágrimas de Petra von Kant”, “O Desespero de Veronika Voss”, “Lola”, “O Casamento de Maria Braun”), em que sempre estão presentes temas relativos ao sexo, violência e degeneração, influenciado por cineastas como Howards Hawks e Fritz Lang, e o teatro de Bertolt Brecht; o lirismo de Werner Herzog (“O Enigma de Kasper Hauser”, “Fata Morganas”, “Também os Anões Nasceram Pequenos”, “Aguirre, a Cólera dos de Deuses, “Fitzcarraldo”, “Coração de Cristal”, “Nosferatu”, “Woyzeck”), as experiências de Wener Schroeter (“Macbeth”), com a linguagem teatral e as felizes adaptações de Volker Schoendorff (“O Jovem Törless, “O Tambor”), Alexander Kluge (“O Poder dos Sentimentos”).

    Alemanha Ocidental: Novo Cinema Alemão e anos 80 (1962–1989)

    A crítica à cinematografia dos anos 1950 – que havia se voltado para o entretenimento fácil, direcionado para as massas – serviu de bandeira para o que posteriormente veio a ser conhecido como Neuer Deutscher Film (Novo Cinema Alemão). O chamado Manifesto de Oberhausen, publicado a 28 de fevereiro de 1962, marcou o início de uma nova era na cinematografia da Alemanha Ocidental.
    "O cinema antigo está morto. Acreditamos em um novo", ditava o documento assinado por 26 cineastas e encabeçado por Edgar Reitz e Alexander Kluge. Entre outros, o Manifesto explicitava uma crítica às formas narrativas tradicionais e tentava delinear um futuro melhor para o cinema alemão, através da reivindicação de fomento financeiro para o setor.
    Mais centrado em questões de ordem prática e institucional do que em preceitos estéticos, o Manifesto tentava estabelecer no país um Cinema Jovem Alemão, aliando o filme de arte a premissas de cunho social.

    Reconhecimento internacional
    Uma leva de cineastas fez então com que o cinema nacional se tornasse conhecido internacionalmente. Através de nomes como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Wim Wenders e Volker Schlöndorff, surgia dentro das fronteiras do país o chamado Autorenkino (cinema de autor).
    Flertando às vezes com a Nouvelle Vague francesa e demonstrando simpatia com as causas defendidas nos protestos estudantis de 1968, os filmes destes diretores abordavam com freqüência temas como conflito de gerações, revolução sexual, emancipação feminina e as amarras da estrutura familiar alemã.
    Em pouco tempo, os nomes destes diretores tornaram-se conhecidos e celebrados principalmente além das fronteiras do país, especialmente nos EUA e na França. É interessante notar que o Novo Cinema Alemão passou, a partir de meados da década de 70, a ser visto internacionalmente como uma alternativa a Hollywood, enquanto dentro da Alemanha esses diretores eram vistos em parte como arrogantes e pretensiosos.
    Apesar de uma maioria de cineastas do sexo masculino, algumas mulheres também se destacaram neste cenário: Helma Sanders-Brahms, Ulricke Ottinger, Margarethe von Trotta, Jutta Brückner e posteriormente Doris Dörrie, nos anos 80, são algumas delas.
    O legado de Fassbinder
    A obra de Rainer Werner Fassbinder, entretanto, foi a que mais marcou o período. Seu enorme potencial criativo – 33 filmes em 14 anos – com os excessos melodramáticos aliados à ironia, a estilização dos personagens e as discussões exacerbadas sobre relações de poder e violência tornaram-se um capítulo à parte na história do cinema alemão.
    Entre outros filmes de Fassbinder que tocavam diretamente nas feridas da sociedade do país, destaca-se O Desespero de Veronika Voss, que levou o Urso de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) em 1982.
    A partir dos anos 80, principalmente após a morte de Fassbinder em 1982, registra-se o declínio do Novo Cinema Alemão, cujo desaparecimento foi gradualmente favorecido pela passagem do poder aos conservadores no país.
    A partir de então, dá-se início a um namoro entre o cinema e a tevê e com isso à busca de um número maior de espectadores. Para fazer crescer a audiência, são utilizados os mais variados mecanismos, até mesmo a transformação do Holocausto da Segunda Guerra Mundial em melodrama familiar.
    Na década de 80, o veterano Alexander Kluge continuaria a lutar pela introdução de uma cota de documentários no esquema de produções para televisão. Seus argumentos: o cinema não poderia ser enquadrado única e exclusivamente no filão da "arte pura", nem relegado à gaveta do mero entretenimento. Continuava aí um debate iniciado anteriormente, que dividia o cinema entre "comercial", de um lado, e "de autor", do outro.
    Aos anos 1980 começam com a visão do universo feminino de Margarethe von Trotta (“Os Anos de Chumbo”), a adaptação da ópera “Persifal”, de Wagner, por Hans-Jürglegen Syberberg, e a obra muito particular de Wim Wenders (“O Estado das Coisas”, “No Decorrer do Tempo”, “Paris, Texas”, “Asas do Desejo”), considerado seguidor de Michelangelo Antonioni. Nesse período, o cinema alemão revela ainda Wolfgang Petersen (“História sem Fim”), Robert Van Ackeren (“Armadilha para Vênus”), Rudolf Thome (“O Filósofo”), Michael Verhoeven (“Uma Cidade sem Passado”), Doris Dornie (“Homens”) e Percy Adlon (“Bagdá Café”).
    Além de Fassbinder, Wim Wenders também tornava-se internacionalmente conhecido através de seus road movies, como Alice nas Cidades (1973), Paris, Texas (1984) e Estado das Coisas (1982).
    Em 1987, Asas do Desejo (cujo título original é Ein Himmel über Berlin – Um Céu Sobre Berlim) é extremamente celebrado fora do país – inclusive no Brasil – contando, no entanto, com certa resistência dentro da própria Alemanha em função do "estetizar excessivo" do filme .
    De suas seis décadas de vida, várias foram dedicadas ao cinema. Nos últimos anos, porém, o diretor alemão mais conhecido no mundo divide seu tempo entre a sétima arte e a função de professor na Universidade de Hamburgo.
    Uma catástrofe nuclear ameaça a humanidade. E a jovem Claire segue um homem misterioso em sua viagem pelo mundo, por todo o globo terrestre. O filme Até o Fim do Mundo (1991), de Wim Wenders, une história de amor, road movie e ficção científica.
    Este é um exemplo típico do estilo de produção e narração desse diretor obstinado. Quinze anos planejando, locações em quatro continentes e custos de aproximadamente 23 milhões de dólares. “O cinema é o único lugar privilegiado, no qual se pode narrar através de imagens“, explica ele. Até o Fim do Mundo é considerado um dos filmes mais significativos da história do cinema europeu contemporâneo.

    Índios e batatas
    No fim da década de 50, a cidade de Oberhausen não fazia idéia de como iria contribuir, no futuro, para a história do cinema. Wim Wenders cresceu no pós-guerra alemão, num ambiente de cidade de interior extremamente conservador e católico.
    O pai, médico no Hospital St. Joseph, exigia que se freqüentasse missa aos domingos e zelava com todo rigor pela formação escolar do filho. O jovem Wenders pretendia virar padre. Mas o que o interessava de fato eram as fantasias de índio dos primos e os faroestes americanos.
    O mito Estados Unidos o atraía mais que uma câmera de oito mm que ganhou de presente. Wenders colecionava discos de Elvis Presley e Roy Orbison, mas os escondia na casa de um amigo, pois o pai não podia ficar sabendo.
    Após concluir o segundo grau, em 1963, Wenders seguiu inicialmente a trajetória do pai. Após dois semestres de Medicina e mais dois de Filosofia, ele interrompeu os estudos. Há um certo tempo, já tentava se redimir do árido cotidiano universitário, dedicando-se à pintura em aquarela, esboçando paisagens e lendo os clássicos da literatura.
    Através de uma assistência na filial da United Artists em Düsseldorf, Wenders entrou em contato com o mundo do cinema, mesmo que a experiência não tenha sido das melhores. “Vi como o pessoal administrativo falava de cinema como se falasse de batatas ou dos preços de abate“, descreveu Wenders esta sua experiência. Sua permanência em Paris, no entanto, viria a ser mais proveitosa.

    Na terra prometida

    Ao chegar à capital francesa, sua carreira parecia chegar ao fim, antes mesmo de ter começado. O plano de estudar na mais renomada escola superior de cinema de Paris fracassou. O jovem alemão nem sequer recebeu a chance de concorrer a uma vaga.

    Foi assim que começou sua formação particular em cinema, diariamente às duas da tarde, numa das salas da cinemateca. Assistiu a mais de mil filmes, antes de ser aceito para estudar na recém-inaugurada Escola Superior de Cinema e Televisão de Munique.
    Três anos depois, após ter rodado um punhado de curtas e escrito uma quantidade homérica de críticas, Wenders concluiu a universidade com o filme Summer in the City (1970) um road movie rodado no triste inverno de Berlim.
    Depois filmou O Medo do Goleiro diante do Pênalti (1971), baseado num romance de Peter Handke, e conquistou reconhecimento artístico com Alice nas Cidades (1973). O cinema de autor estabelecido por Wenders não tardou a atrair atenção internacional. Sua fama chegou então à terra prometida da infância.
    Aceitando um convite do diretor e produtor Francis Ford Coppola, Wenders partiu imediatamente para os Estados Unidos. Após a proposta de diferentes roteiros para o filme Hammett, o projeto fracassou definitivamente. O estilo de produção e narração de Wenders não combinava com a forma de trabalho da fábrica de sonhos comercial norte-americana. Decepcionado e desiludido, ele retornou à Europa em 1982.

    Anjos sobre Berlim
    Após o sucesso do filme Paris, Texas (1984), Wenders começou a financiar ele mesmo seus outros projetos. Seu maior êxito foi o filme Asas do Desejo, com roteiro de Peter Handke, e cujo título no original é Der Himmel über Berlin (O Céu Sobre Berlim), igualmente festejado por público e crítica.
    A história de um anjo que se apaixona por uma trapezista de circo ganhou em 1987 o Prêmio de Cinema Alemão, o prêmio de melhor direção em Cannes e o prêmio da crítica em Los Angeles. A partir de então, Wenders passou a ser considerado o mais significativo diretor de cinema de autor do mundo.
    Depois disso, porém, teve dificuldades de corresponder às altas expectativas do público e da crítica. A continuação de Asas do Desejo fracassou. Apesar de um elenco de renome, o filme Tão Longe, Tão Perto (1993) não convenceu. A Palma de Ouro concedida em Cannes foi interpretada como premiação pelo conjunto da obra de Wenders.

    Entre rejeição perplexa e euforia incondicional
    O público passou a oscilar cada vez mais entre uma rejeição perplexa e uma euforia incondicional. Nem todos podiam ou queriam seguir as imagens e visões de Wim Wenders.
    Com o documentário Buena Vista Social Club (1998), o cineasta conseguiu atingir novamente o êxito de produções anteriores. A redescoberta de lendários músicos cubanos, antes caídos no esquecimento, virou um sucesso de bilheteria e desencadeou uma nova onda da música do país em todo o mundo.

    Às margens do cinema
    Nos anos seguintes, Wenders passou a se dedicar a outras atividades. Começou a fotografar, arriscou uma peça publicitária pela prevenção de câncer de intestino e fez um videoclip para a banda Die Toten Hosen. Participou do júri em Cannes e ainda assumiu a presidência de diversas academias de cinema.
    Além disso, virou professor da Escola Superior de Cinema de Munique e recebeu o título de doutor honoris causa na Sorbonne. O cineasta premiado incontáveis vezes começou então a rodar o mundo. Morou alternadamente em Berlim e Los Angeles, onde – apesar de antenas de satélite novinhas em folha – mal tinha tempo de assistir às transmissões de futebol de seu país.
    Mas depois Wenders teve chance de apreciar o futebol alemão ao vivo, em Hamburgo. Sua função de professor de Mídia da Escola Superior de Artes Plásticas o levou a se estabelecer na cidade hanseática em 2002.

    Tecnologia digital: nova forma de pensar
    O que atraiu Wenders foi o processo digital. “A transferência para a tecnologia digital representa uma revolução comparável à transição do filme mudo para o cinema falado na década de 1920. Vejo uma grande chance nesta imensa ruptura que está por vir e mudar a nossa forma de pensar“, explica o diretor.
    Em 2004, Wenders rodou Terra da Fartura, que novamente tem os EUA como cenário, desta vez com referências à atomosfera no país depois do 11 de setembro e da guerra do Iraque. Ao último festival de Cannes Wenders levou Don't Come Knocking, no qual retoma o viés temático do estar on the road e as contradições do "sonho americano".
    Durante o Festival de Cinema de Locarno – um dia antes de seu aniversário de 60 anos –, Wenders foi homenageado com um Leopardo de Ouro pelo conjunto de sua obra. O comentário do cineasta em entrevista a um jornal suíço foi o seguinte: "O prêmio não é nada mau, mas acho estranho que ele tenha um subtítulo pela obra completa. Tenho que pensar muito bem se vou realmente parar por aqui".


    O "cinema reunificado"
    Construído em agosto de 1961, durante a guerra fria, o muro da vergonha começou a ruir com o desmanche do socialismo real no Leste Europeu. Na madrugada do dia 09 de novembro de 1989, a população de Berlim foi para as ruas comemorar o decreto que anulava o mauer, muro divisor da cidade alemã em dois blocos: socialista e capitalista. A queda do Muro de Berlim, provocou um retorno inesperado do "cinema popular", caracterizado pelo domínio de formas de narração clássica, em analogia ao ocorrido no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial. Uma nova geração de cineastas rejeitava quaisquer ambições políticas ou sociais, exprimindo um claro "não" ao cinema de autor dos anos 1970-1980. Se antes os cineastas alemães realizavam filmes de características que faziam uma reflexão em torno das especificidades dos novos cineastas, que têm um olhar voltado para temas que envolvem estética, condições socioeconômicas e culturais, hoje o cinema germânico é repleto de comédias e também um pouco de suspense, fugindo do cinema de autor da Alemanha dos anos 1960 a 1980, que cedeu espaço aos filmes de gênero.
    A participação do capital privado na produção e a cooperação com distribuidores norte-americanos levaram à formação de um novo perfil da cinematografia nacional: uma espécie de acordo tácito entre o cinema como arte e como produto comercial. Uma clara adesão às grandes salas multiplex passou a atrair um número cada vez maior de espectadores aos cinemas, nivelando assim o gosto popular e encolhendo o espaço destinado aos filmes "de arte".
    Passados 20 anos da abertura das fronteiras, o cinema alemão tem como destaque cineastas como Sebastian Schipper, diretor de “Um Amigo Meu” (2006)
    uma estória cheia de humor sobre dois amigos que não poderiam ser mais diferentes um do outro. é uma comédia sobre a loucura na amizade e o descobrimento do amor. o filme conta a história da amizade improvável entre o jovem matemático Karl, um tipo introvertido e inseguro apesar do sucesso profissional, e Hans (Jürgen Vogel), seu oposto em temperamento. Karl trabalha como junior-manager numa companhia de seguros e encontra-se no início de uma carreira brilhante, com um bom salário e uma casa espaçosa na melhor zona da cidade. No entanto, o sucesso profissional deixa-o perfeitamente indiferente e a sua vida é caracterizada por um total desprendimento, uma indiferença causada pela insegurança perante os colegas, que o faz preferir trabalhar sozinho. A fim de despertar neste promissor jovem executivo um pouco mais de entusiasmo e paixão, seu chefe lhe envia em serviço externo numa espécie de expedição de castigo, onde encontra Hans. Transbordando de energia e espírito de iniciativa, este arrasta Karl para o seu mundo, cheio de carros velozes, divertimento e amizades. Hans apresenta-lhe também Stella, a sua Rainha, a mulher que ele ama e com a qual quer casar.
    Outro cineasta destacado no atual contexto do cinema alemão é Benjamin Heisenberg, diretor de “Adormecido” (2005), em que um doutorando de Virologia deve espionar seu colega argelino, uma suposta “célula dormente“ à espera de um comando para um atentado terrorista, com um clima social de insegurança e desconfiança que se infiltra de modo destruidor na vida privada. Igualmente pode se dizer de Thomas Arslan, diretor de “Férias” (2007), ambientado numa casa de campo afastada na região de Uckermack, ao norte de Berlim –, onde uma família que se despedaça: a mãe está farta da vida solitária no interior, enquanto o casamento da filha está à beira de seu fim e o filho adolescente tem a primeira briga com a sua namorada, sem falar que a avó adoece gravemente e morre, aumentando os acontecimentos dramáticos que, no entanto, se infiltram furtivamente na vida privada da família.
    Christian Petzold realizou em 2007 “Yella” sobre é jovem e bonita, que decide fugir de um casamento falido e da falta de perspectivas na sua cidade natal para se estabelecer em Hannover. Em oposição a seu interior tumultuado, o comportamento frio e calculado da jovem acaba sendo um trunfo nos negócios, e ela está a caminho do sucesso profissional. Esta personalidade dual, no entanto, mantém a tensão do filme em alta, ainda mais quando Yella começa a ser assombrada por seu ex-marido psicótico. O personagem deu à atriz Nina Hoss um urso de prata no Festival de Berlim de 2007, e a indicação do diretor Christian Petzold para o urso de ouro no mesmo ano. “Ele (Petzold) merece ser comparado a Claude Chabrol, mas ao mesmo tempo com algo muito distinto, e distintamente germânico”, publicou o jornal inglês The Guardian, que classificou Yella como um “thriller extremamente envolvente”.
    Em “Entardecer” (2007), de Angela Schanelec, paira uma atmosfera de cansaço, tristeza e de amor perdido sobre as cenas cotidianas. Trata-se de uma adaptação livre e pessoal da peça de teatro “A gaivota“ de Anton Tchekhov, transpostada para o aqui e agora. Irene, atriz de teatro, vai para sua casa no lago nas proximidades de Berlim, onde seu irmão mais velho e seu filho Konstantin moram. Verão, sol, lago – aparentemente um cenário idílico, mas os personagens estão escondidos em si mesmos.
    Também sobre uma atriz de teatro é a história de “Sonho de uma Noite de Inverno’ (1991), Andres Veiel (1991-92). No final dos anos 1920, Inka Köhler-Rechnitz conclui seu curso de atriz. Ela recebe imediatamente uma oferta para trabalhar no Teatro de Görlitz. Porém, seu esposo se nega a conceder sua permissão, necessária naquela época. Nos anos 1930, o fato de ser parcialmente judia representa uma ameaça de ser deportada para um campo de concentração. Somente após 60 anos, ela retornará ao palco onde a sua carreira deveria ter começado.
    “Quatro Minutos” (2006), de Chris Kraus, é uma estória extremamente singular, narrada com uma consistência igualmente extraordinária: há décadas Traude dá aulas de piano na prisão feminina. Agora ela se depara com a jovem Jenny, uma moça reservada, condenada por homicídio e que já fora considerada um prodígio musical. Durante a tentativa da professora de levar a sua aluna à vitória em uma competição musical, se desenvolve uma relação difícil e conflituosa entre as duas mulheres, excitante até o último segundo.
    As películas do atual cinema alemão falam também sobre a cena política antes e depois do ato que unificou o território, dissociado por 28 anos, e marcou o fim da Guerra Fria na história mundial. É o caso de "Adeus, Lenin", de Wolfgang Beckert, que mostra os desafios vividos por Alex Kerner (Daniel Brühl), um jovem da ala oriental da cidade, comandada pela União Soviética. A mãe dele, uma ativista comunista, entra em estado de coma ao encontrá-lo numa passeata contra o sistema vigente. Dias depois, após a queda do muro, ela desperta e, ainda frágil, fica impossibilitada de ter fortes emoções, sob pena de sofrer consequências graves de saúde. Receoso de que as mudanças agravem o estado da mãe, Alex elabora um plano para ela acreditar que Berlim continua dividida. Ele utiliza mil e um artifícios para impedir que a sua mãe tenha um choque, reconstruindo um pedaço da ex-RDA dentro de seu quarto, num daqueles velhos apartamentos que fizeram história na Alemanha comunista.
    “Adeus, Lenin trata exatamente da história do muro de Berlim e discute também a questão da unificação. É um filme que agradou ao público em geral. Realizado em 2003, é a catarse da Alemanha 15 anos depois da queda do Muro de Berlim. Um sopro de melancolia e de saudosismo. Comédia com traços de melancolia, o filme sagrou-se vencedor do European Film Awards, uma espécie de Oscar Europeu.
    “Luzes” (2003), de Hans-Christian Schmid, conta a história de duas cidades às margens do rio Oder: a Frankfurt alemã e a Slubice polonesa. Após o término da Guerra Fria, o velho conflito entre leste e oeste foi deslocado para o âmbito econômico. O filme fala de pessoas que querem ir para a Alemanha a qualquer custo, de pessoas que não encontram lá o paraíso sonhado, de negócios legais e ilegais e de uma fracassada história de amor entre o leste e o oeste.
    “A Vida dos Outros” (2006), de Florian Henckel, ambientado em novembro de 1984, quando o governo da Berlim Oriental busca assegurar seu poder através de um cruel sistema de controle e vigilância sobre os cidadãos. O capitão Anton Grubitz busca ser promovido em sua carreira, com o apoio dos mais influentes círculos políticos da época, e para isso dá a um fiel agente do sistema, Gerd Wiesler, o encargo de coletar evidências contra o bem-sucedido dramaturgo Georg Dreyman e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sieland.

    Nesse contexto, vale enfatizar o cineasta Fatih Akin, que faz parte de um tipo de cineasta que está antenado com seu tempo, mas não aceita conceber seus filmes como panfletos. Para ele, nascido na Alemanha, mas filho de turcos, isso significa não fugir da questão da imigração turca para o país germânico, mas sem transformar seu filme em um objeto direto de conscientização e instrumento para uma discussão profunda da questão turca em relação aos alemães.
    Resumindo: seus filmes, especialmente “Contra a Parede”, são ideais para serem discutidos em uma roda de amigos ou citado em alguma palestra que aborde a imigração para a Europa. Porém, raramente seriam exibidos em um hipotético sindicato dos imigrantes turcos para conscientizá-los da condição de exploração que alguns vivem.
    Akin, na condição de turco-alemão, sempre afirmou que preserva as tradições turcas da sua cultura. Porém, não a absorve de maneira totalitária, íntegra, assumindo-a como plena. Por ter freqüentado escolas alemãs desde a infância, se considera alemão, mas questiona as contradições germânicas; e se considera turco, questionando as contradições turcas, especialmente a questão do Curdistão.
    Assim como em seus filmes anteriores, em “Do Outro Lado” o diretor prima por contar histórias. Desta vez, traz dois núcleos que se unem. Nejat (Baki Davrak) não admite que seu pai tenha escolhido a prostituta Yeter (Nursel Köse) para namorar. Porém, repensa sua atitude quando descobre que ela manda dinheiro para custear os estudos de sua filha na Turquia. Nejat vai até Istambul para tentar encontrar Ayten (Nurgül Yesliçay), filha da prostituta. Porém, ela, uma ativista política, já migrou para a Alemanha, onde encontrou proteção de Lotte (Patrycia Ziolkowska) (veja trailler).
    O conteúdo político mais denso do filme está em um diálogo entre Ayten e Susanne, a conservadora mãe de Lotte. As duas conversam sobre uma questão cara tanto à Turquia como ao bloco europeu: a entrada na União Européia. A jovem é crítica em relação a essa perspectiva: “Não acredito na União Européia. Inglaterra, França, Alemanha, Espanha... todos são países colonialistas”. A velha, dona da casa, responde: “Tudo pelo que você luta será recuperado quando vocês entrarem na União Européia”.
    Akin não foge a um importante debate político de grandes implicações. Porém, levanta questões e não afirma claramente uma opinião acerca do tema. É um diretor cujos filmes levantam discussão, não formatam cabeças.
    O último filme de Akin exibido no Brasil foi “Atravessando a Ponte, o Som de Istambul”, que investigava as diversas tradições musicais presentes na capital turca, do rock ao religioso, passando pela música curda e o rap. Em 2000, ele realizou “Em Julho”, sobre um professor sério, mas apaixonado, que faz uma aventuresca viagem de Hamburgo para Istambul. É um divertido road movie no calor de um verão europeu. Em 2004, aos 30 anos, Fatih Aki venceu a Berlinale com “Contra a Parede”.



    BERLINALE
    As influências do Muro de Berlim no cinema pós-queda e a sua importância para o atual cinema alemão residem justamente nas temáticas desses filmes mais populares, de linguagem internacional, e em filmes mais cult, mais pensantes. A atual cinematografia alemã possui documentários, filmes de história real, de ficção que tratam das duas décadas de queda do muro de Berlim e que discutem as mudanças políticas na Alemanha durante a década de 1990, e tratam sobre a repercussão das ações políticas daquele período nos dias de hoje.
    Vale ressaltar, por exemplo, o documentário "O Muro" (1990), de Jürger Böttcher, com as impressões do diretor sobre os últimos dias antes do muro; "Nenhum Lugar para Ir" (1999), de Oskar Roehler, que inspirou-se na história da própria mãe, a escritora Gisela Elsner (autora do livro "Os anões gigantes"), para contar a degradação de uma mulher, com álcool e barbitúricos, após extinção da comunista República Democrática Alemã, e "Berlin is in Germany" (2001), de Hannes Stöhr, que conta sobre Martin, um presidiário que ganha liberdade e se depara com Berlim unificada; "O Último a Saber" (2006), de Marc Bauder; "Terra do Silêncio" (1992), de Andreas Dresden, e "Depois da Queda" (1999), de Frauke Sandig.
    “Não Quero Apenas que Vocês me Amem” (1992), de Hans Günter Pflaum, um documentário sobre Rainer Werner Fassbinder produzido por ocasião do 10º aniversário da morte do cineasta, ocorrida em 10 de junho de 1982 em Munique. Hans Günther Pflaum rastreia suas pistas em três diferentes planos: num primeiro plano, vários colaboradores de Fassbinder falam sobre a pessoa, o método específico de trabalho e a importância do diretor. No segundo plano, é o próprio Fassbinder quem tem a palavra, com a ajuda de material de arquivo. No terceiro plano, trechos extraídos da obra de Fassbinder esclarecem e complementam os depoimentos. A documentação, estruturada em dez capítulos, tem como foco central, por um lado, a vida do diretor, desde a sua infância até a sua morte e, por outro, pontos de destaque do seu trabalho artístico, como uso da câmera, atores e música.
    A importância da Berlinale para o cinema alemão, principalmente para o cinema contemporâneo, reside no fato de que os cineastas atuais do cinema alemão encantam o público, com comédias, dramas e suspense, mas que discutem também as problemáticas do seu país. É justamente este fator que leva os cinéfilos a procurarem filmes da estética utilizada nas produções de Hollywood”, com sua linguagem narrativa plena de linearidade ao contar uma história, tão cara aos blockbusters da Meca do cinema mundial, sempre prestigiados pelos júris do Festival de Berlim nos últimos tempos pós queda do muro da vergonha.

    Diretor, roteirista e pesquisador de cinema, foi crítico de cinema do jornal Diário da Manhã (1982-93), editor geral da revista Oásis (1986-93), da revista Novos Dias (1998), assessor de imprensa do Fica (Festival Internacional de Cinema Ambiental, 1999-2002) e crítico cinematográfico da Revista de Cinema - São Paulo-SP (2001-2002). Foi assistente de direção e montagem e fez a direção de produção do curta-metragem em 35mm “O Pescador de Cinema”, de Ângelo Lima (Goiânia, 1999); Produtor Executivo e Assistente de Produção do curta-metragem em 35mm “Wataú”, de Débora Torres (Goiânia/Aruanã, 2000). Escreveu o roteiro e co-dirigiu, com Eduardo Benfica, o vídeo “Goiânia: Do Batismo à Modernidade”, em homenagem ao cinqüentenário do Batismo Cultural da cidade, comemorado em 1992, e co-dirigiu, com Eudaldo Guimarães, o vídeo “Bennio – o Inesquecível Alquimista das Artes”.
    É um dos fundadores da Associação Brasileira de Documentaristas, Seção de Goiás - ABD-GO, presidida por ele em quatro gestões (1985-1986, 1993-1994, 2006-2008 e 2008-2010). Autor do livro “Bennio – Da Cozinha para a Sala Escura” (Editora do Cerne, Goiânia, 1999), co-autor, em parceria com Eduardo Benfica, do livro “Goiás no Século do Cinema” (Editora Kelps, Goiânia 1996) e um dos autores da “Enciclopédia do Cinema Brasileiro” (Editora Senac São Paulo, 2000).Foi jurado em diversos festivais e mostras de cinema de 1985 a 2009 (Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, Goiânia Mostra Curtas e Festival de Goiânia do Cinema Brasileiro).
    Em 2001 escreveu o livro “O Cinema Ambiental no Brasil” (editado pela Agepel) e dirigiu o vídeo “Cesius 13.7”, documentário sobre o acidente com o Césio 137 ocorrido em Goiânia em setembro de 1987. Em 2005, escreveu o roteiro “DJ Oliveira – O Dom Quixote dos Pincéis”, com direção de Taquinho. Nesse mesmo ano recebeu uma Medalha de Honra ao Mérito na homenagem prestada pela 5ª Goiânia Mostra Curtas.
    Foi diretor de Comunicação do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC) e da ABD Nacional (Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas, 2006-2009). Atualmente é presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, Seção de Goiás – ABD-GO; membro do Conselho Fiscal da ABD Nacional; presidente do Cineclube João Bennio e do Núcleo Goiano do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro (CPCB).

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